sexta-feira, 26 de outubro de 2012


A BELEZA É A MANIFESTAÇÃO DE DEUS EM NÓS
ENTREVISTA COM CLAUDIO PASTRO

O escritor e artista plástico, Cláudio Pastro, lança o livro O Deus da Beleza e afirma que o que chamamos de beleza está completamente distante do sentido real, das suas raízes e de seu elemento gerador.
Para Pastro, a beleza é “a manifestação de Deus em nós “, revelada por meio da contemplação. O artista ainda ressalta que a beleza e as artes estão em crise: “não há mais discernimento entre o belo e o feio, pois a determinante é o consumismo, se vende ou não".
Com mais de 35 anos de dedicação à arte sacra e mais de 250 obras espalhadas pelo Brasil e pelo mundo, o artista fala como é possível estar mais próximo e sentir a presença de Deus através da beleza e da arte.
Fiel ao cristianismo, ele afirma que a religião está em crise e que a sociedade está se afastando do sagrado. Apesar de manter uma posição crítica ao clero, as diretrizes de Cláudio Pastro quanto à elaboração, construção e utilização do espaço sagrado costumam ser seguidas. A autoridade que tem no assunto é reconhecida dentro e fora da Igreja.
Para você, como se define a beleza?
A beleza é essência. Na tradição cristã, como linguagem para todas as religiões, a beleza é a manifestação do outro, de Deus entre nós. As demais belezas são criadas pelo homem, são purpurinas. Hoje o mundo vive poluído de palavras, reuniões, projetos que definem projetos. Não precisa disso. A linguagem do sagrado revela-se por meio do acolhimento, da contemplação da beleza.
O homem é capaz de desenvolver essa beleza interior?
Sim. Ele também pode criar a beleza divina quanto mais se aproximar do divino. Mas isso exige contemplação, oração. É preciso estar muito atento a Cristo. O livro O Deus da Beleza quer lembrar aos cristãos que se não há beleza, não há sinal de esperança naquilo que somos e fazemos. Também mostra que o espaço sagrado deve ser organizado, harmônico e limpo.
Indo a um espaço sagrado como as Igrejas, o homem parece estar sempre em busca de algo. Você concorda?
Para aqueles que estão em contato com a beleza divina não precisa ir em busca de nada. Nós já temos a certeza daquilo que somos desde batizados, que é algo grandioso. Deus não nos tranquiliza ou nos coloca para cima, nós que precisamos contemplá-lo e interiorizá-lo, questionando nossos atos pela fé.
Como é sua experiência do sagrado por meio da beleza?
Não posso viver senão da minha fé e tenho isso como um ponto importante. Mas, a fé cresce em nós e nos questiona, sem nos satisfazer e ao nos questionar, ela nos molda, faz compreender a beleza. Sempre fui cristão católico e vivo com seriedade a minha arte como trabalho, manifestação e expressão, mas em tudo o que faço, tenho a Palavra de Deus como alimento. Hoje vemos que as pessoas fazem muitas coisas e depois buscam Deus para agradecer. Quando eu vou para o meu ateliê, meus joelhos já estão cansados de tanto me alimentar da Palavra e contemplar a beleza divina. E assim que me oriento.
A sua arte também pode ser considerada a tradução da sua fé?
Não faço santinho e nem deixo me guiar pelo devocionismo. Não concordo com isso. Toda imagem, toda forma, depende de um conteúdo que as mantém. No meu trabalho é a Palavra de Deus que se traduz na arte. É a minha fé vivida e isso é essencial. Construir uma igreja é imensamente superior à construção de uma casa, porque se trata das coisas de Deus. Eu percebo que se contratam arquitetos com uma linguagem material e o Cristo é o último a entrar.
Além de beleza, arte é outra palavra muito citada no livro. Elas se associam?
A palavra arte vem do Latim, significa serviço e por isso gosto muito de usá-la. Hoje, tornou-se comum ir a uma loja e comprar arte por metro. Isso não é arte! Ela só o é em sua essência, quando se está a serviço de uma grande nobreza, quando se torna criativa. Um bom exemplo são os nossos índios que não compram ou vendem arte em lojas, mas a fazem para celebrar um momento grandioso da vida, como a iniciação de alguém ou a morte de forma gratuita. A arte precisa estar a serviço da beleza.
A Igreja tem trabalhado a Palavra de Deus desta forma?
Ela já fez isso, mas não faz mais, infelizmente. Deixou de ser uma referência para o mundo, porque não manifesta em sua postura a beleza que o mundo carece. Ao contrário, a Igreja tem incorporado em suas atividades e celebrações coisas do mundo com as quais eu não concordo.
Com o que você não concorda?
A Igreja tem copiado os astros que dão shows na televisão como maneira de atrair multidões. É tudo uma palhaçada e muito mal feita. Utiliza-se de recursos tecnológicos, copiando o que o mundo já faz, respondendo a apelos de que se não for assim ninguém escuta. Ora, a Igreja não foi feita para se escutar, nem para falar, mas sim para o silêncio, para viver a contemplação e a fé. É um espaço onde se celebra o mistério divino que passa pela Eucaristia e pela oração dos salmos. No passado, as grandes catedrais recebiam duas, três mil pessoas e não existia microfones. Ninguém ia lá para fazer barulho. Buscavam a Deus e Ele se manifestava no silêncio.
Mas a Igreja ao incorporar uma linguagem popular contribuiu, em alguns casos, para o aumento de fiéis?
Esse exagero no popular é perigoso. É como uma faca de dois gumes, ela também pode matar. Fica difícil distinguir o espaço sagrado e porque estamos ali. A postura dentro da igreja se tomou a mesma do mundo: as pessoas são grosseiras, gritam e falam demais. Não há mais a contemplação de Deus.
A Igreja não deve absorver o que o mundo oferece de bom?
O mundo é do mal, lugar de corrupção e quando eu entro em uma igreja, entro em um pedaço do céu. É a Jerusalém Celeste, segundo o livro do Apocalipse. Ter uma harmonia vital é ocupar o espaço sagrado com elementos da natureza que são abençoados por Deus. Tudo deve estar a serviço d’Ele. Esta harmonia não tem nada a ver com luxo e conforto, com poltronas de cinema, telões etc. Quem quer descansar, relaxar, que fique no sofá de casa. Perante Deus devemos ficar duros, atentos.
Será que essa mudança é possível de ser alcançada? O clero tem esse entendimento?
A Igreja sempre fazia isso na época em que o Cristo era o referencial. Hoje, a referência é o mundo e, em alguns casos, o espaço sagrado é inspirado em um shopping. O sagrado, Deus, a beleza, passa tão somente pelos nossos sentidos humanos e alguns têm a mania de achar que beleza é fantasia, é luxo. O clero precisa aprender a ser mais humano. Deus passa por nossa humanidade e pessoas mais simples podem sentir essa beleza de forma muito mais presente do que o nosso clero. A beleza nasce nos joelhos, na postura, não em organizações, cúrias e escritórios.
Então os mosteiros estão mais próximos da beleza e da arte?
Sem dúvida. Os mosteiros são bem mais centrados e espero que não se corrompam e continuem como celeiros de gratuidade. Os monges e monjas rezam todos os dias, sempre para louvar a Deus. Isso é vida!
Quanto à arte sacra, como você avalia a preservação feita pela Igreja e comunidade?
Arte sacra não é coisa do passado, claro que, em dois mil anos de Igreja, há muita arte que foi produzida, mas ela é uma coisa viva hoje. Eu acredito que nós não estamos preparados nem para preservar o passado, quanto mais viver o presente. Um espaço de beleza e de arte é como um mapa de leitura da nossa fé e as nossas igrejas não têm unidade; não de uniformidade, mas, unidade em referência a Deus que é uno. Os espaços que temos hoje não transparecem a harmonia, o equilíbrio e não falam do único de quem eles têm que falar: Deus. Estamos em um momento de crise profunda na Igreja e só vamos superar isso como exercício da ascese (prática da renúncia) e do jejum para recuperar nossa identidade, porque quanto mais perto do nada, mais perto de Deus estaremos.
Então, que caminho a Igreja deveria percorrer?
A liturgia de Paulo VI, utilizada hoje, é magnífica. Mas, nós precisamos de mais humanismo dentro da Igreja, de saber se apaixonar, se maravilhar com a vida e não ficar só tecnicamente a ajudar os pobres, as associações e os hospitais. Essa perda de humanidade é a perda do sagrado e, consequentemente, da beleza.
Que caminho deve ser percorrido pelo verdadeiro cristão?
O ser para ser é preciso resplandecer. Não basta dizer que está fazendo, se a beleza não aflora e ela não existe sem a verdade e a justiça. As três coisas têm que estar juntas. Os cristãos devem ser eternas crianças e sempre permanecer no aprendizado de que é a partir da Eucaristia e da nossa postura diante do espaço sagrado que Deus se manifesta. Esta postura não pode ser copiada do mundo, tem que ser baseada na Palavra, por isso é preciso sempre se questionar e saber para onde se caminha, senão, você acaba indo com a massa e ela não sabe para onde vai.
A arquidiocese de Belo Horizonte inaugurou em abril o seu Memorial, com o intuito de preservar, entre outros objetos e documentos, obras de arte sacra. Você apóia iniciativas corno esta?
Preservar a memória fazendo uma releitura é sempre saudável. Se formos analisar atentamente, a própria celebração eucarística é um memorial, O que não podemos é ficar presos a isso, achando que apenas o passado é referência para o presente e o futuro. Para nós cristãos a vida acontece agora. É importante preservar as atitudes de grandes pessoas do passado, mas e nós, estamos fazendo o quê?

Pintura: Cláudio Pastro
Irmãs de Santo André - Rondinha-PR
Fonte: Jornal de Opinião, n° 1091 - Ano 20 

Fonte: www.itaici.org.br

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

A Essencialidade na Arte

A luz em si se basta.
Ela é já sinal de Deus, a luz incriada.
Não há necessidade de acumular numa vela sinais, cores, outros brilhos.
Pior ainda, inventar velas falsas, elétricas
“O olho é a luz do corpo.

Se teu olho é são, todo o teu corpo
será iluminado. Mas se o teu olho está
doente, todo o teu corpo estará nas trevas.
Se a luz que está em ti são trevas,
quão espessas deverão ser as trevas”.
(Mt 6, 22-23)
 
Olhar, a forma, a cor, o perfume, a arte, linguagem universal e referencial para a vida, é uma expressão do espírito e do homem. A obra de arte namora o espectador e ambos se transformam. Nosso olhar está ofuscado na sociedade em que vivemos.
Não é um olhar límpido. Tudo está poluído: as ruas, as casas, os negócios, os parques, as igrejas... Há uma poluição visual e sonora intensa.
Assim, vamos nos acostumando a tudo o que é contrário à luz, harmonia e beleza. Estamos desorientados (o contrário da luz que nasce no oriente a cada manhã), perdidos, violentos e violentados.
Acostumamo-nos ao feio e passamos a chamá-lo de belo. Esquecemos que o feio é parente da morte, nos desestrutura, nos devora. O homem violento, desequilibrado, procura compensar acumulando coisas, pessoas, sons, barulhos, prazeres... “Quanto mais melhor!”. Assim pensamos atualmente.
Nem nos damos conta de que, acumulando, nos distanciamos do minúsculo, do centro, do mínimo que é o pólo da vida. Já não nos comunicamos, não enxergamos uma forma, uma cor, não ouvimos um pequeno som básico que nos recuperaria, nos reorganizaria após experiências agitadas e traumáticas. Os elementos da vida não precisam ser somados para nos dar a vida.
Um só elemento nos coloca no eixo vital: um olhar, uma cor, um som ... O bom relacionamento não só com as pessoas, mas com todos os elementos que compõem a vida, garante a própria vida.
Uma luz, uma cor, uma pedra, um pedaço de madeira, um horizonte, um gesto... falam e têm vida em si. Ninguém tem vida sozinho.
A obra de arte é reflexo do homem de seu tempo, da cultura. É termômetro. Casas desorganizadas, ruas carregadas de cartazes, jardins e monumentos pichados refletem um povo, uma cultura doente, pobre, sem rumo.
A obra de arte é indicador, referencial, farol.
Uma praça ou rua bem arrumada, limpa, profissionalmente traçada, reflete no ser que por aí passa ou vive. Organiza-se, também, interiormente, o morador ou transeunte.
Contemplar uma luz, a forma e a matéria ou cor de um objeto, suas linhas agradáveis, ou sons que não alteram o silêncio, comum a todos, faz bem, traz paz, reorganiza, reequilibra-nos quando estamos decaídos.
Quando o olhar não sabe mais ver ou vê apenas espaços desarrumados, então, podemos dizer que o olho está doente e “a luz fictícia do desenvolvimento” é treva, escuridão e “não luz para os nossos passos”.
No atual cristianismo, onde repousamos o nosso olhar? Séculos e séculos foram mascarando a nossa fé. Acúmulos e pesos de dogmas, de cartas morais, de títulos variados de santos e de “Nossas Senhoras”, construções variadas de igrejas, santinhos comercializados... são acréscimos, desrespeito para com o centro e razão da própria fé.
Basta entrarmos numa igreja católica e veremos acúmulos de materiais, de formas, de barulhos, de elementos impostos pelas próprias pessoas “em nome da fé”. Na frente do “muito”, não sabemos ser UM com o UM (Deus), o princípio e único necessário para a vida. O Único Santo que tudo santifica.
Vamos reaprender a olhar, a ser. Vamos limpar o nosso olhar?
Cláudio Pastro

Fonte: www.itaici.org.br

quarta-feira, 10 de outubro de 2012


ESPIRITUALIDADE
ICONOGRAFIA


ÍCONE, "JANELA PARA A ETERNIDADE"

. . . A PALAVRA o inspira e evangeliza;
a IMAGEM que visibiliza a palavra bíblica
e leva aos olhos o que a palavra transmite ao ouvido;
a ORAÇÃO, prece litúrgica na que ressoa a voz da Igreja
e se consuma a comunhão dos Santos
num mesmo e único Espírito...
Frase, propositadamente repetida, não é um slogan: através do ícone o divino nos ilumina. A luz é o atributo principal da glória celeste e os ícones representam os habitantes do Reino, contempladores da luz incriada, pela qual se deixam penetrar até se tornarem esplendorosos, como indica o nimbo ao redor de seus rostos (os nimbos não são, como as auréolas ou as coroas, simples sinais da santidade).
O ícone, visto com os olhos do coração iluminados pela fé, nos abre para a realidade invisível, para o mundo do Espírito, para a economia divina, para o mistério cristão na sua totalidade ultraterrena. É lugar teológico, antes, "teologia visual", como muitos já disseram.
O ícone é inspirado e sagrado de modo específico, símbolo que contém presença, cujo tempo, espaço e movimento não são representados pela percepção comum. A própria laconicidade de seus traços nos remete para uma mensagem de fé, a "visão do Invisível", para empregar as palavras de São Paulo (Hb 11,1).
"O ícone se afirma independentemente do artista e do espectador e suscita não a emoção, mas a vinda do transcendente, cuja presença ele atesta. O artista se esconde atrás da Tradição que fala. A obra torna-se uma manifestação de Deus, diante da qual devemos nos prostrar num ato de adoração e de oração".
Poder-se-ia continuar muito mais, tentando precisar bem o que é o ícone, mas os orientais não gostam de definir; pelo contrário - observa um deles - é necessário não definir! Portanto, procuremos descobrir pessoalmente o que é o ícone...
No recolhimento e no silêncio, os olhos se abrem para a luz da Transfiguração e seremos naturalmente conduzidos pela força do Espírito à luz do ícone, a fim de contemplar não só a face de Jesus, mas também a luz da verdade divina (pp. 20s).
Extraído de: Pergunte e Responderemos - 456 - pp. 219-225
por Dom Estevão Bittencourt

FONTE:    WWW.ITAICI.COM.BR

quarta-feira, 3 de outubro de 2012



A Origem dos Cartões de Natal



Desde as mais antigas civilizações, o homem foi criando meios de comunicação para transmitir aos semelhantes os seus pensamentos, ideias, necessidades, sentimentos, etc. Com o decorrer dos tempos, inventou os mais variados e sofisticados meios para isso, assinalando por escrito - em cartas de amizade ou de amor, poesias, canções, desenhos ou pinturas - as mensagens de seu coração. 

Esse costume ficou consolidado entre os povos, utilizando-se para isso tanto o pergaminho, a seda, placas de madeira e de cobre gravados, o barro cozido, etc. 

Bem antes de Jesus Cristo surgiram as mensagens de felicitações, pois já era habito entre os romanos enviarem-se congratulações pelo Ano Novo, gravadas em tabletes de argila (tijolos) e, com a cristianização do Imperio Romano, esse costume permaneceu. 

Todavia, o primeiro cartão de "Boas Festas" de que se tem notícia teria surgido em Londres no ano de 1834, na mesma epoca dos contos natalinos de Charles Dickens. 

Foi a falta de tempo de Henry Coyle, o director do British Museum de Londres, que originou a criação dos cartões natalícios. Sem possibilidade de escrever a mão à todos os seus familiares e amigos, Henry Coyle solicitou ao artista plastico John Callicot Housley que lhe elaborasse um cartão que servisse para enviar boas-festas a todos os seus entes queridos. 

O pintor pegou num pedaço de cartolina quadrada e dividiu-a em tres partes: ao centro desenhou uma familia reunida a mesa, comemorando alegremente. No verso figuravam meninos pobres recebendo comida e roupas. 
Na outra parte podia-se ler a seguinte mensagem: A merry Christmas and a happy New Year to you ("Um alegre Natal e um feliz Ano Novo para você"). O significado em inglês da palavra Christmas o mesmo que The Mass of Christ : "Missa de Cristo". 

Nesta ocasião foram impressos cem, e os que sobraram foram vendidos a um xelim cada. Até a moda pegar em 1851, os cartoes eram todos litografados e pintados mão. Este artesanato acabou quando um editor de livros decidiu massificar a venda de cartões. 

Autor desconhecido