Ars celebrandi
A arte de celebrar.
Celebrar a fé é, de fato, uma arte, como
uma bela sinfonia na qual saber interpretar os acordes torna a música
harmoniosa aos ouvidos. Realizar esta grande obra implica em aprender a ouvir,
perceber e sentir todos os detalhes existentes em uma sagrada liturgia. É
preciso fazer da celebração um “colóquio
com Deus”, um momento onde “entramos”
na liturgia para que a mesma torne-se para nós “uma escola de vida” que nos oriente a viver a vida retamente,
segundo as sábias palavras de Bento XVI.
Conhecer
e interiorizar a estrutura da celebração permite-nos celebrar “com” a Igreja este diálogo onde
súplicas e agradecimentos são ofertados a Deus. Fazer do ato de celebrar
tornar-se uma arte é dever e direito de todo cristão batizado, que carece de
realizar “um encontro com o Senhor, que
por nós se despoja da sua glória divina, se deixa humilhar até à morte de cruz
e assim se entrega a si mesmo a todos, a cada um de nós” (BENTO XVI, 2012,
p.91). A arte de celebrar implica em conceber por liturgia algo diferente do
que conhecemos, como apenas uma normatividade do ato de celebrar, pois articulá-la
de forma harmoniosa permite-nos adentrar em sua espiritualidade, a qual se encontra intimamente ligada ao
transcendente.
Extrair
de uma visão litúrgica apenas rubricista uma espiritualidade amorosa é algo que
apenas a “Ars celebrandi” pode
realizar, proporcionando à assembleia o conhecimento sobre os mais singelos
gestos na liturgia tornando a celebração cada vez mais compreensível e intensificando
a proximidade com o Senhor. Aprender
também a encontrar no silêncio a união e o agradável conforto espiritual. Ouvir
o que o Senhor tem para nos falar, pois “Ele
age no silêncio” (BENTO XVI, 2012, p.93) e no murmurar da brisa suave.
Por
isso, tornar a “Arte de celebrar” uma
realidade em nosso meio é uma urgência, pois “o elemento fundamental da verdadeira ars celebrandi é esta
consonância, esta concórdia entre o que dizemos com os lábios e o que pensamos
com o coração” (BENTO XVI, 2012, p.95). Traduzir nossas palavras em gestos
concretos permite-nos que a liturgia torne-se uma pedagogia de vida,
orientando-nos rumo à Jerusalém celeste. É importante ressaltar que a arte de
celebrar “não pretende convidar para uma
espécie de teatro, de espetáculo, mas para uma interioridade que se faz sentir
e se torna aceitável e evidente para o povo que assiste” (BENTO XVI, 2012,
p.95).
Introduzir
o termo arte no processo de celebrar os Santos Mistérios, não significa
transformar a liturgia em um mero espetáculo, mas sim torná-la bela e em “[...]
comunhão de todos os presentes com o Senhor” (BENTO XVI, 2012, p.96). A arte de
celebrar consiste em envolver os participantes da celebração na oração, para
que todas as pessoas que nos encontrarem pelo caminho percebam em nós a “presença do Senhor”, ou seja, a alegria
de ser cristão e testemunhar esta fé viva e autêntica. Tornar a arte de
celebrar presente em nossas celebrações significa proporcionar uma liturgia
catequética, onde cada cristão saiba o significado de cada gesto, com a
finalidade de que a liturgia traga às nossas vidas sementes transformadoras do
amor de Deus.
Desta
forma, quanto mais conhecermos as preciosidades existentes em nossa Igreja,
mais atraídos seremos pela grande beleza que é Cristo Jesus. Portanto, trazer a
arte para a celebração possibilita-nos que “estando
com Ele podemos ser verdadeiramente para todos” (BENTO XVI, 2012, p.101).
Assim, evidencia-se a necessidade de que a “Ars
celebrandi” torne-se cada vez mais uma realidade viva em nossas comunidades.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
BENTO XVI, A Liturgia por Bento XVI, São
Paulo, 2012.
Jorge Armando Pereira
Seminarista da Arquidiocese de Botucatu